|
Olten Ayres de Abreu, ao centro nesta foto. |
Olten Ayres de Abreu, hoje com 83 anos, renomado árbitro brasileiro na década de 60, foi o encarregado de apitar a estréia do Peixe numa Taça Libertadores. O fato deu-se em La Paz, no ano de 1962, contra o Deportivo Municipal, representante boliviano.
A caminhada para o título foi iniciada com o fato inusitado de ter um árbitro brasileiro em um jogo fora de casa. A explicação nem o próprio Olten tem com precisão. O exercício de memória é prejudicado pelo tempo.
– Faz muitos anos, é difícil lembrar. Mas acho que naquela época era comum o visitante indicar o árbitro. Sei que fui designado e o Santos venceu – contou o ex-árbitro, em seu apartamento no centro de São Paulo, para relembrar o jogo, que terminou 4 a 3 para o Peixe.
O fato curioso alimenta a estreita relação que o árbitro teve com o Santos naquele período de glórias. O duelo em questão foi apenas um dentre tantos do Peixe sob o comando de Olten, dentro e fora do país.
Na Bolívia, a escalação do brasileiro gerou polêmica. Ainda mais porque, na semana seguinte, no duelo de volta, na Vila Belmiro, o peruano Alberto Tejada foi o árbitro.
|
Olten, nos dias de hoje, em sua residencia
em São Paulo |
Alheio às polêmicas de poder ter favorecido o Santos na época, Olten se defende dizendo que nunca precisou “roubar” um jogo e fala com orgulho da relação com aquele time.
– Fui o árbitro que mais apitou jogos do Santos, que mais apitou jogos do Pelé. E nunca o expulsei. Ele era gênio, nunca mais terá outro. Eu ia expulsar gênio? – questiona.
O que lembra daquele jogo na Bolívia?
Foi o jogo mais histórico do Santos na Libertadores e comigo. Quando estávamos chegando ao aeroporto de lá, aterrizando, o povo boliviano invadiu a pista e veio na direção do avião. Achei que todos iam morrer. Mas a polícia os retirou e fomos para o hotel. Tudo isso para ver o Santos, ver Pelé.
E no estádio, como foi o jogo?
A federação boliviana abriu o estádio um dia antes para os torcedores. E serviram chá de coca para todos eles. Eles estavam loucos. Alguns cheiravam cocaína. Fizeram muita pressão, quiseram retardar o tempo do jogo, e com a vitória do Santos a fúria chegou.
E como conseguiu terminar aquela partida?
Eu resisti. O Santos era muito melhor. Mas eles começaram a quebrar tudo, sobrou até para o Pelé. Tiveram que tirar a gente e ele, principalmente, em caminhões do exército. Com o Pelé disfarçado. Dizem que fui mandado para favorecer o Santos, mas se eu pudesse escolher iria para Paris e não Bolívia. Só tiramos as roupas do exército no hotel. Entrou para a história. E voltamos vivos!
|
Aqui ele está expulsando o capitão do Santos,
Zito, que foi uma de suas maiores "vitimas" |
Histórias de Olten
Zito: a maior vítima
Dentre os jogadores do Santos das décadas de 60-70, um em especial tinha motivos para se preocupar com a arbitragem de Olten: Zito, o capitão daquele esquadrão. “Eu o expulsei seis vezes”, conta o ex-árbitro, aos risos. Ele, no entanto, faz questão de ressaltar que as expulsões não foram por um carrinho ou qualquer outra entrada violenta. Zito era considerado um jogador muito disciplinado: “Era por reclamação, ele reclamava demais. Às vezes, no começo do jogo, eu apitava algo contra e ele chegava no meu ouvido e dizia: Já vai começar, né!? Eu respondia: Já comecei! Pode sair! E mandava para a rua! (risos)“, lembra.
‘São-paulino até morrer’
Embora sua carreira como árbitro seja marcada por uma relação estreita com o Santos, o coração de Olten bate pelo São Paulo, do qual é conselheiro vitalício. Ele apitou o jogo inaugural do Morumbi, dia 2 de outubro de 1960, na vitória tricolor sobre o Sporting (POR) por 1 a 0, gol de Peixinho. Guarda consigo diversas honrarias do clube e hoje mostra com orgulho a carteirinha de assessor pessoal do presidente Juvenal Juvêncio. Mas nem tudo são flores. Por conta da relação com o Santos, Olten é criticado até hoje por conselheiros do Sampa. Ele se defende: “Dizem que o São Paulo não ganhava comigo, só o Santos. E não ganhou mesmo. O time era muito ruim (risos)”.
Aos pés do Rei
|
O gol mencionado por Olten, ganhou
placa no Maracanã |
Dentre tantos jogos memoráveis que apitou, Olten tem em sua galeria o duelo em que Pelé marcou o famoso tento que ficou conhecido como Gol de Placa. Em 5 de março de 1961, Santos e Fluminense se enfrentaram pelo Torneio Rio-São Paulo, no Maracanã. Aos 40 minutos do primeiro tempo, o Peixe vencia por 1 a 0, o Rei driblou sete adversários e tocou na saída do goleiro. As duas torcidas, em reverência, aplaudiram de pé por minutos. Olten não hesitou: “Quando me dei conta, o estádio inteiro estava aplaudindo. O que eu ia fazer? Aplaudi também e quando o Pelé se aproximou, o cumprimentei. Foi uma honra!”.
(Texto fonte: Lancenet.com)